Quando você pega um roteiro pela primeira vez o que você vê?
1- Um mundo detalhado onde os personagens vivem e respiram?
2- Imagina cenários detalhados, luzes e uma plateia ou câmera?
3- Ou você se vê sentado em uma mansão em Hollywood, depois de interpretar o papel e receber elogios?

Cada opção acima leva algumas considerações.
Vamos supor que você pegou uma audição e o roteiro é de Hamlet…

AUDIÇÃO: Masculino 20 – 30 anos, intenso, potencialmente suicida. Bonito, mas também inteligente. Roteiro anexado.

Maneira 1 de visualização: O Mundo Real
Você é um príncipe e seu pai foi assassinado por seu tio. Agora seu tio está dormindo com sua mãe. As paredes do castelo são feitas de pedra. Os ventos frios da Dinamarca dão-te frio. As conversas são reais. As relações são reais. Você é transportado do seu estúdio para outro universo/tempo/lugar onde os eventos da peça estão acontecendo enquanto você lê as linhas. Vida real. Morte verdadeira.

O que tem de positivo nisso: Aproximar-se de um roteiro como esse fundamentará seu desempenho com uma base sólida de naturalismo e honestidade. As interações que seu personagem tem com os outros serão verdadeiras e autênticas. As apostas de cada cena serão adequadas ao seu contexto e tão fluidas quanto a vida real. As únicas performances indulgentes pertencerão a personagens indulgentes. “Ser ou não ser..?” não será intimidante porque é uma pergunta genuína feita por uma pessoa real em um momento de desilusão.

Maneira 2 de visualização: A cena, a fantasia.
Você se vê com o figurino de um príncipe para interpretar a cena. Esse príncipe se parece exatamente com você. O ator oposto está interpretando seu tio, que matou seu pai e agora está dormindo com sua mãe. As paredes não são reais e o ar é climatizado para o conforto do público. Mas você entende que precisa fingir ser frio. Ao ler o roteiro, você é transportado para um palco ou para os ensaios onde você e seus colegas de elenco se preparam para contar uma das maiores histórias já contadas. Você se posiciona para ficar no foco de luz, levanta a voz para ser ouvido e não esfaqueia seus novos amigos com a espada.

O que tem de positivo nisso: Ver um roteiro dessa maneira manterá seu desempenho funcional. As interações que você tem com outros atores no palco vão contar a história com precisão sem colocar ninguém em perigo. O público será convidado a entrar na história e poderá desfrutar de cada palavra, expressão e silêncio. O diretor não terá que mudar sua performance para se adequar ao público porque você já está ciente de sua presença. Essa abordagem também ajudará você a se separar de seu personagem – o que geralmente é importante em peças de longa duração, se você quiser manter uma vida pessoal fora da peça.

Maneira 3 de visualização: O Futuro
Você se imagina na chamada das cortinas, vestido com uma fantasia, parecendo significativamente mais bonito do que realmente é. Os outros atores estão dando a você uma salva de palmas extra porque você arrasou esta noite. Mulheres bonitas te encontram na porta do palco e ressacas não existem. Uma pessoa de prestígio vem ver seu show e dessa forma você poderá receber um convite para aquela série de sucesso…

O que tem de positivo nisso: Você vê o potencial em cada audição. Você está com fome de sucesso e isso é contagioso. Sua abordagem aspiracional força você a trabalhar duro para melhorar seu ofício e se tornar um ator melhor. Sim, é perigoso não focar no papel – mas ainda há algo útil nessa abordagem.

Como devo visualizar um roteiro então?
A combinação bem-sucedida dessas abordagens será diferente para cada ator, dependendo da sua maneira natural. Para alguns, focar mais no mundo real da peça evitará o exagero e a sensação de precisar ser algo mais do que você é. Para outros, ter mais perspectiva da cena, da criatividade, ajudará na criação de palco e se tornará resiliente a direções confusas. E então, para alguns poucos, focar no futuro ajudará a evitar a perda de tempo desempenhando papéis que não estão levando suas carreiras na direção certa.

Conseguir misturar um pouquinho dessas três visões pode ajudar na busca de um equilíbrio. Pode ajudar a não se frustrar tanto quando vê um resultado negativo. Pode ajudar na criação e montagem da cena. Pode ajudar a tornar a peça mais prática.

Uma coisa é certa, seja qual for sua abordagem, espero que você consiga o papel!

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