O medo do palco é algo que praticamente todos os atores já enfrentaram em algum momento. Pode ocorrer em graus variados, desde isolado e leve até debilitante e constante. Se você está sofrendo dessa doença irritante, não se preocupe, você não está sozinho e estou aqui para tentar te ajudar.
Por mais que muitas pessoas amem atuação, muitas vezes o pavor do palco pode fazer com que esse amor se torne algo insustentável.
Mas há escolhas que podemos fazer… deixar esse pensamento arruinar o que se ama fazer ou tentar manter isso sob controle? Obviamente, os realmente apaixonados pela arte, escolherão a segunda opção.
Mas deixo claro,  não existe uma solução rápida. Faz parte do trabalho dia após dia. É aquele negócio… Se o esporte que você adora praticar faz com que seus tornozelos fiquem tensos, você não tentaria consertar isso? Você poderia! Você faria fisioterapia, ou faria exercícios, ou talvez se aqueceria mais antes dos jogos. 
O medo do palco não é diferente. Se você puder ficar ciente disso e tiver maneiras de gerenciá-lo, poderá ter certeza de que isso nunca será uma barreira para você fazer seu melhor trabalho.

O que é medo do palco?
O medo do palco é literalmente o que o nome sugere: você ficou com medo do palco. E isso pode acontecer em qualquer momento: Testes, autogravação ou até mesmo trabalhar informalmente com um novo ator podem causar medo do palco.
O medo do palco é ficar com medo de permitir que alguém assista ao seu trabalho. Mesmo que eu sinta que às vezes faço meu melhor trabalho quando ninguém está olhando, atuar precisa de público. Sem público é apenas prática. Se você ficar com medo de ser observado enquanto atua, isso pode tornar a atuação não apenas difícil, mas francamente desagradável.
As causas disso podem ser variadas. Pode ser causado pela pressão que você colocou em si mesmo, seja pelo tamanho ou escala da produção, pela cultura do local de trabalho, pela dificuldade do papel ou por uma crítica negativa. Embora as causas sejam variadas, os sintomas são os mesmos. Sempre se manifesta em pensamentos negativos sobre se vale a pena assistir ao trabalho que você está fazendo. Aiii esse tal julgamento que entra dentro de nós e nos engole por dentro.
Depois que essa mentalidade se instala, você simplesmente para de jogar e de correr riscos… joga tudo para o alto. Você deixa de estar presente porque fica preocupado com o que as pessoas que estão assistindo estão vendo. Você está ocupado observando e monitorando a si mesmo, ao invés de estar no momento.
E o que deixa tudo isso ainda mais complicado é que o prazer do processo passa a ser prejudicado pelo estresse da mente.
Atuar deveria ser agradável. Todos nós escolhemos atuar por causa da paixão por compartilhar histórias e pelo prazer do ofício. Se você deixar o medo do palco chegar ao ponto em que você não gosta de atuar, então qual é o sentido? Se vou me sentir infeliz, posso muito bem fazer algo menos volátil com um salário mais regular.

O medo do palco é apenas nervosismo?
Nervosismo é apenas excitação. Ficar nervoso pode ser uma sensação confusa, mas geralmente dura pouco e é administrável. Eles geralmente são vivenciados no início da produção ou apresentação. Noites de estreia, primeira grande cena ou uma grande ligação podem deixar os nervos à flor da pele. Normalmente, após o choque inicial, o nervosismo se dissipa à medida que você fica mais confortável com a situação.
Eu sei, isso não quer dizer que o nervosismo é divertido. Ele pode afetar o corpo e isso pode ser frustrante. A respiração pode ficar superficial, a frequência cardíaca aumenta e acalmar isso pode tornar difícil permanecer no momento. Continue respirando e os nervos desaparecerão.
O medo do palco exige um pouco mais de coragem para ser removido.

O que posso fazer para acabar com o medo do palco?
Há etapas para impedir que ele se torne uma barreira para você fazer o seu melhor trabalho.
Para aqueles de vocês que tiveram um caso grave de medo do palco, sabem que ele se alimenta de si mesmo. Você se preocupa com o fato de seu trabalho não ser bom o suficiente, o que faz com que você jogue pelo seguro e não corra grandes riscos, o que faz com que você perceba seu trabalho como mais fraco, o que o torna menos confiante em seu trabalho, o que leva você a se preocupar se seu trabalho não é bom o suficiente…. E assim por diante. Vai e volta.
Tudo isso trata-se de mudar a sua perspectiva. É um padrão de pensamento que precisa ser interrompido. 

Todos importam
O pequeno príncipe não é o pequeno príncipe sem a rosa. Estragon e Vladimir não existiriam se não fosse Godot. Romeu teria outros pensamentos se o veneno não estivesse ao lado de Julieta.

É fácil cair na armadilha de sentir que tudo gira em torno de você, mas nada acontece no vácuo. Tudo o que você faz está ligado a alguma coisa: a história. Para um ator que trabalha com um roteiro, é preciso lembrar que alguém construiu uma jornada para você viajar. O fato de você estar lendo isso significa que alguém pensou muito sobre o que é essa jornada e, se ela passou por desenvolvimento, você sabe que é uma jornada muito boa. É seu trabalho mostrar essa jornada ao público. Entrei nessa questão para mostrar que muitas vezes você está morrendo de medo de estar no palco, mas que você não está sozinho ali, estar no palco envolve muitas outras pessoas. E o medo às vezes nos faz pensar que somos o único foco.
No final das contas você está sempre assistindo a uma história. A história é o que significa atuar. Lembre-se de que você faz parte de uma equipe, não de um indivíduo, mesmo quando estiver fazendo cenas sozinho, você é uma parte do todo. O escritor protege você, mesmo que você nunca o conheça. A atuação é um esforço de equipe, não um trabalho solo.
Este lembrete pode impedir você de se preocupar se o que está fazendo é “bom”. Concentre-se em: o público está envolvido com a história? Isso tira o foco do indivíduo e nos permite servir algo maior do que nós mesmos.

Confie no trabalho
Se você está se sentindo péssimo com uma audição, apresentação ou workshop, mas não fez nada para se preparar…. Então você merece sim todo sentimento ruim (desculpe a dureza). Você desperdiçou o tempo de todo mundo e esse sentimento é apenas o sentimento de decepcionar todo mundo.
No entanto, se você trabalhou – pensou no personagem, fez escolhas, estruturou a cena, aprendeu as falas, seguiu a direção, etc. – então se apoie. Vale a pena ver seu trabalho.
Ao ensaiar uma cena, você tomou decisões que acha que valem a pena ver. Você descobriu como acha que esse personagem deveria ser interpretado e o que ele oferece à história. Na verdade, você está fazendo a cena como deseja vê-la. Se você quiser ver, confie que outra pessoa também o fará. Você escolheu agir dessa maneira porque acha que é bom! Só porque outra pessoa está assistindo agora, não significa que você deva mudar ou duvidar de nada.
Quando o medo do palco surge, o cérebro em pânico começa a duvidar das horas que você dedicou e diz que você fez escolhas erradas e que pode começar a recuar. Lembre-se: se você dedicou tempo e esforço, poderá depositar sua fé no trabalho que realizou. Uma execução ruim de uma peça bem ensaiada só será prejudicada em alguns graus. Um ator bem preparado e trabalhador sempre fará mais trabalhos bons do que ruins.
Isso não significa que tudo sempre correrá bem. Você pode deixar cair uma linha aqui ou perder um momento ali e esses tropeços podem parecer monumentais, mas são apenas momentos. Todos nós temos dias bons e ruins. No geral, se você trabalhou e está preparado, pode confiar que isso aparecerá.

Não se julgue
Um dos padrões de pensamento que pode atrapalhar é quando você começa a se observar e a se julgar em tempo real. Este é um lugar terrível para se estar porque você nunca se torna totalmente presente. Em vez disso, seu cérebro está examinando seu trabalho e preocupado se as pessoas estão julgando você por isso.
Se você se encontrar aqui, lembre-se de duas coisas importantes:
– Ninguém se importa
O que? Isso mesmo. Ninguém se importa. Claro que eles podem não gostar do espetáculo ou escalar você para esse papel… mas e daí?
Na realidade, estamos oferecendo histórias para as pessoas que desejam vê-las. Nossa maior aspiração é ser observado no tempo livre das pessoas. Se as pessoas gostam ou odeiam, é totalmente subjetivo. Ninguém está julgando você pessoalmente. É apenas um trabalho. Até o seu maior trabalho será odiado por alguém. Paradoxalmente, quanto mais sucesso você tiver, mais pessoas verão o seu trabalho e, portanto, mais pessoas o odiarão.
Os atores têm o estranho hábito de fazer do trabalho no palco ou na câmera toda a identidade e, quer as pessoas gostem ou não. É aí que o medo do palco pode piorar. Se minha atuação não for boa, então não serei bom. Isso é muita pressão e absolutamente não é como as pessoas pensam. Eles podem não gostar do que viram, isso é verdade, mas isso é tudo que eles vão.
Não conseguir um papel, ou uma boa crítica, é irrelevante para a nossa existência. Você ainda é você e ainda tem valor. Podemos julgar o trabalho, mas é só isso – trabalho. É assim que funcionam as outras visões de mundo. É apenas um trabalho. Apenas um contrato. Se este não foi bom, não se preocupe, haverá um próximo.

– Não é tão ruim assim
Então você teve uma apresentação ou audição ruim? Você sente que poderia ter feito melhor e o desempenho foi melhor da última vez.
Todo ator já sentiu esse sentimento. A sensação de não acertar. Esse sentimento é normal e bom, mas o que se torna um problema é quando esse pensamento se enraíza e você começa a se culpar pelos fracassos percebidos, e antecipa que isso acontecerá na sua próxima tentativa.
Tendo dirigido espetáculos de teatro, aprendi que os atores são os piores juízes de quando são bons ou ruins. Tenho certeza de que muitos de vocês também sentiram a estranha desconexão de conseguir um papel depois de sentirem que destruíram um teste. Ou obter uma ótima resposta para uma performance fracassada. A diferença entre um desempenho “bom” e um “ruim” é normalmente de apenas alguns pontos percentuais. Embora possa parecer uma diferença de 50% quando você está nele, é mais próximo de 2% quando você assiste.
O que é importante lembrar é simplesmente sair da sua cabeça. É mais fácil falar do que fazer, mas é importante parar de pensar em termos definitivos. Você não tem ideia de como está indo, porque você não pode assistir. Mude, a conversa interna que diz “Isso não está indo bem” para “Não sei como isso está indo”. Até mesmo permitir que a conversa interna seja aberta pode lhe dar espaço para respirar e voltar ao momento.
Felizmente, cada cena, cada tomada ou cada respiração é uma oportunidade de reiniciar. Pare um momento, pare de se julgar e divirta-se.

Importante ressaltar
Se você está agindo, em qualquer situação, as pessoas ao seu redor querem que você se saia bem. O diretor escolheu você para aquele papel porque achou que você seria ótimo. O resto do elenco quer que você faça o seu melhor trabalho, porque isso os faz parecer bem.
Se você estiver com dificuldades, informe-os. As pessoas ao seu redor entendem a pressão do desempenho e podem ajudar. Admitir a um diretor que seus nervos estão tomando conta de você ou dizer a um diretor que você não ficou feliz significa que agora eles podem tentar ajudar.
Isso não significa que você pode fazer disso um problema deles. Isto não é:  “Estou com dificuldades, então agora faça tudo para ter certeza de que vai dar certo”. Nem é algo que você deva usar para gerenciar expectativas; “Direi que meus nervos estão ruins, assim eles pegam leve comigo”. Ambos são egoístas e falsos. É apenas para deixá-los saber com calma e honestidade que você está passando por um momento difícil. Eles podem ajudar ou não, mas pelo menos sabem de onde você vem.

🎭 Escola de Teatro Juliana Leite 🎭
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