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16/10/2024Considerada uma das mais enigmáticas e encantadoras peças de William Shakespeare, “A Tempestade” (The Tempest) continua a cativar audiências e estudiosos séculos após sua primeira apresentação, por volta de 1611. Com uma trama rica em magia, vingança, redenção e o poder da natureza, essa obra é muitas vezes vista como a “despedida” do grande dramaturgo, marcando a última peça escrita inteiramente por ele.
O Enredo
A peça se passa em uma ilha remota, onde o protagonista, Próspero, vive em exílio com sua filha, Miranda. Próspero, outrora o duque de Milão, foi traído por seu irmão, Antônio, que usurpou seu título e o enviou ao exílio. Agora, com o poder de seus conhecimentos de magia, Próspero domina os espíritos da ilha, especialmente Ariel, seu leal servo, e controla o monstro Caliban, que ele vê como selvagem e perigoso.
A peça começa com a criação de uma tempestade mágica, desencadeada por Próspero, que faz naufragar um navio próximo à ilha. Entre os sobreviventes estão seu irmão Antônio e o rei de Nápoles, Alonso, junto com seu filho Ferdinando. A partir desse momento, Próspero coloca em movimento um plano de vingança, enquanto também manipula os eventos para unir Ferdinando e Miranda em uma história de amor jovem e inocente.
Ao longo da peça, temas de reconciliação e perdão se tornam centrais. Próspero, apesar de buscar inicialmente retribuição contra seus traidores, gradualmente escolhe o caminho do perdão, abandonando sua magia e optando pela restauração das relações humanas. No final, ele renuncia ao controle da ilha, restaura sua dignidade como duque e prepara-se para retornar ao mundo civilizado.
Temas Centrais:
– Poder e Controle
Um dos temas predominantes em “A Tempestade” é o poder — tanto político quanto mágico. Próspero é um personagem que, ao longo da peça, exerce controle sobre os outros, seja por meio de sua magia ou de sua inteligência. Ele manipula os eventos da ilha, orquestrando o destino dos náufragos e controlando a vida dos habitantes da ilha, como Ariel e Caliban. No entanto, à medida que a trama avança, o próprio Próspero questiona esse poder, levando à sua decisão final de abandoná-lo.
– Natureza x Civilização
A ilha em que se passa a peça é um lugar misterioso e cheio de magia, representando uma separação entre o mundo civilizado e a natureza selvagem. Próspero, com seu conhecimento e autoridade, tenta civilizar e controlar a natureza ao seu redor, principalmente através de seu relacionamento com Caliban. A figura de Caliban simboliza o lado “selvagem” da natureza e questiona a ideia de superioridade moral ou intelectual da civilização europeia, algo que ganha relevância nas interpretações contemporâneas da peça.
– Perdão e Redenção
Ao longo da trama, “A Tempestade” trata do ciclo de vingança e perdão. O desejo inicial de Próspero de vingar-se de Antônio e Alonso é gradualmente substituído pela ideia de redenção. A escolha de Próspero de perdoar seus inimigos em vez de destruí-los é um dos momentos mais poderosos da peça, ressaltando a capacidade humana de crescimento e transformação.
Personagens:
Próspero
Como figura central, Próspero é ao mesmo tempo um soberano deposto e um feiticeiro. Ele manipula os eventos da peça com uma habilidade quase divina, mas sua jornada emocional — do ressentimento ao perdão — é o verdadeiro coração da história. Muitos críticos interpretam Próspero como um reflexo de Shakespeare em seus últimos anos, com sua renúncia à magia simbolizando o próprio adeus do dramaturgo ao teatro.
Ariel
O espírito Ariel é o agente mágico de Próspero, responsável pela criação da tempestade e por muitos dos encantamentos da peça. Ariel deseja sua liberdade, e seu relacionamento com Próspero é uma mistura de obediência e desejo de emancipação. Ele representa o elemento etéreo da magia da peça, e seu anseio por libertação pode ser interpretado como um reflexo do tema da libertação emocional e pessoal.
Caliban
Um dos personagens mais controversos e complexos da obra, Caliban é o filho da bruxa Sycorax e o habitante original da ilha. Ele é muitas vezes visto como uma figura trágica, que, apesar de ser subjugado e tratado como uma criatura selvagem por Próspero, possui uma conexão profunda com a terra. Um personagem central em discussões sobre imperialismo e exploração.
Interpretações Modernas
“A Tempestade” tem sido revisitada por diretores e estudiosos ao longo dos séculos, com interpretações que exploram temas de colonialismo, poder e justiça social. Muitos críticos contemporâneos veem o relacionamento entre Próspero e Caliban como uma metáfora para a opressão colonial, com Caliban simbolizando os povos indígenas subjugados por invasores europeus. Outros enxergam a peça como uma meditação sobre a arte e o papel do criador, com Próspero representando o próprio Shakespeare em sua despedida das criações teatrais.
A magia da última obra
“A Tempestade” é frequentemente vista como a última obra solo de Shakespeare, e muitos acreditam que a renúncia de Próspero à sua arte reflete o próprio afastamento do dramaturgo da escrita. É uma peça que mistura comédia, drama e elementos sobrenaturais, oferecendo um final poético para a carreira de um dos maiores escritores de todos os tempos.
No fim, “A Tempestade” é uma obra que transcende sua época. Ela nos desafia a refletir sobre o poder, a moralidade, o perdão e a própria essência da humanidade. Assim como Próspero, somos todos convidados a enfrentar nossos desejos mais profundos, entender nossos limites e, finalmente, escolher o caminho da redenção.
Para o público moderno, a peça continua a oferecer novos significados, dependendo de como olhamos para o mundo e para nós mesmos.
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